Isolada,
atrás de uma vidraça embaciada
ao ritmo da minha respiração,
espreito a vida das varandas plantadas nesta praceta:
Roupa sacudida pelo vento e banhada pelo sol;
Um gato que se espreguiça sonolento;
Um cachorro que ladra para o saco plástico que se passeio no vento;
Cadeiras vazias;
cortinas penduradas e cerradas;
Algumas plantas pintalgadas de flores aqui e ali;
Gente?
Nem miúdos nem graúdos.
A vida decorre entre quatro paredes, desafiando o tédio, a rotina, a imaginação, a paciência e uma ameaça invisível e letal.
Saudade do reboliço, dos gritos das crianças e dos pais no parque no meio desta praça, agora enrolado em fitas vermelhas e brancas que lembram o Natal.
De novo este vento que tantas vezes me amedronta, que sacode as minhas janelas sem piedade e que vergam as plantas que heroicamente resistem na varanda deste terceiro andar.
Este vento que transporta vida, sementes que viajam ao seu sabor
E hão-de poisar nalgum pedaço de pó
Talvez na minha varanda
Ou entre gravetos secos
Há uma brisa de esperança
Um orvalho que alimenta
Há pássaros que poisam na varanda
bem vindos!
É a primavera que acontece
Indiferente à pandemia, à morte que ameaça toda a humanidade,
Um suspiro de esperança
Uma lufada de cor.
P.A. 27 de Março
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