quarta-feira, 29 de julho de 2015

MINHA DOCE, QUERIDA ADORADA, JOSEFINA!

"Tropecei" nesta imagem na net (no FaceBook).

Lembrou-me uma conversa da minha querida e LINDA mãe... que com mais de 80 anos olhando-se ao espelho (coisa que não tinha por hábito fazer - sempre se preocupou com os filhos e tratava-se como se ela própria não existisse), Disse:
quote
" esta manhã olhei para o espelho e não me reconheci. Olhando para mim disse, Josefina, como é que ficaste assim?! Estás tão enrugada, com menos cabelo, toda torta (sofria de escoliose), a pele cheia de sardas e nódoas negras (...devido ao anticoagulante que tomava para evitar tromboses) o nariz tão vermelho (rosácea que detestava - achava que iam pensar que andava a beber)...
Josefina, eu por dentro não me sinto assim..."
unquote



 
 
Linda nesta foto com 24 anos e tantos sonhos por viver.
 
 

Linda com 87 anos - uma vida preenchida - no último Natal que partilhamos... em que pensavas Josefina? Nos presentes que gostarias de ter dado e não tinhas possibilidades? Nos desperdícios dos novos tempos?
Linda! Cada ruga uma história para contar (tristes, amargas, alegres, felizes) sempre tão tolerante, sempre tão atenta.
Estamos cá os 7 e o teu neto Mateus também.
Nos encontros é inevitável não falarmos dela, do nosso orgulho por ela...
Lembramos : "como é que ela conseguia? como é que ela conseguiu? "
Sabia o prato preferido de cada filho, de cada neto... sempre que nos reuníamos lá fazia os "africanos" já famosos entre os amigos dos filhos, dizia sempre que era a última vez, que tinha muita dificuldade em mexer a massa para atingir o ponto, ficava cheia de dores (tinha graves problemas ósseos e dores constantes - recusava-se a tomar medicação pelos efeitos secundários - detestava medicamentos) e... resistente... na próxima festinha lá vinham os famosos africanos, dezenas deles sempre tão doces e carregadinhos de amor.
 
Minha doce, querida, adorada JOSEFINA! Tanta saudade, dói!

domingo, 26 de julho de 2015

correndo atrás dos sonhos


Como é bom ser criança - acreditar que a bola de sabão contém tudo o que os nossos olhos e a nossa alma deseja -  cores e reflexos - tantos sonhos.



Dois anos - as mesmas mãos sonhando (dizem que hoje é dia dos avós)


Eu, avó, aqui confesso:
Não há maior satisfação que ver o meu amor dar fruto,
raízes em busca de luz que com outras águas se fundiram,
além-mar, com cheiro a pinho (Leiria), um rebento enfim brotou;
bate-bate um coração que faz renascer o meu sempre que rompe a alvorada....
Duas mãozinhas, crescem em abraços e afagos, massajam o meu coração, ao ritmo do eco (eco-eco) da saudade que ressoa a cada dia dia que passa.
A distância não separa o amor que nos uniu (une).
O meu coração bate baixinho contando os dias que faltam, as marés que nos separam deste mar doce e salgado que rodeia a minha alma, feita ilha abençoada que o teu nome gravou com brasa feita basalto.
beijinhos ao (meu) Miguel

terça-feira, 21 de julho de 2015

Publicação 1000

1000     MIL     1000     MIL     1000    MIL 1000

Não é que não tenha nada para dizer ou partilhar:
Esta é para o número. Apenas para marcar MIL

T- - R - - A - - Ç - - O - - S

Hoje ao pequeno almoço com RTP-Açores e Ana Mar

ME - jeans (APPDA - S. Gonçalo)



Quem come? Quem comeu? o quÊ?


CÔderosa








Life is a .... PINK!

domingo, 19 de julho de 2015

em estado de auto-análise



Recordo-me de pequenas coisas (flash-back) dos meus 2-3 anos de idade...
Quando foi a primeira vez que recordo alguém dizer-me: "gosto de ti!" humm...

Lembro-me de com cerca de 3 anos "fugir" para casa da "Ginjão e do Gibano" que tinham dois filhos e que me davam o que na minha casa ninguém tinha tempo para me dar : abraços, miminhos, brincadeiras. Provavelmente diziam que gostavam de mim... não me recordo...

... já deveria ter 11 ou 12  anos, andava no Ciclo Preparatório (Escola Roberto Ivens) quando recordo ter ouvido estas três palavrinhas mágicas.

Escrever  liberta-me!
O papel (neste caso o PC) que carregue agora este peso.
Vou pesar-me, aposto que perdi.... 2 gramas Ah Ah Ah

Pensando... a minha quota de loucura...

Penso muito, eu sei.
Analiso, analiso, analiso...
Sou severa comigo bem mais do que sou com os outros.

Há questões que me assaltam inesperadamente enquanto entretenho os dedos com agulhas, linhas, tecidos e afins... as obras nascem, as ideias são mais que muitas e não tenho tempo para concretizar (nem que vivesse até aos 100 (credo, cruzes, não penso nem quero ficar por aqui tanto tempo).
Todos os dias estou pronta para partir se assim tiver que ser.

Surgem ideias, projectos, bonecos...
Surgem questões existenciais.
Da minha existência, desta existência.

Ontem lembrei-me das perguntas que o Daniel Oliveira faz aos seus convidados (ainda não vi o programa - hei-de ver nas gravações):
- "Alguém que  lhe deve um pedido de desculpa? - - " E você deve um pedido de desculpa a alguém?"
Os convidados costumam dizer sempre que não.
Eu sou realmente diferente dos outros (especialmente das vedetas de TV):
Há sim quem me deva pedidos de desculpa!
Há sim pessoas a quem eu devo não um mas vários pedidos de desculpa.
Pensando bem, são as mesmas pessoas, estamos em dívida uns com os outros, mas isto não nos deixa quites, não senhor.
A primeira pessoa a quem devo vários pedidos de desculpa é a mim mesma e aos que amei e amo:
- desculpa não ter sabido escolher melhor;
- desculpa ter-me calado;
- desculpa não ter exigido o que merecia;
- desculpa ter escondido as minhas mágoas;
- desculpa ter chorado às escondidas;
- desculpa ter partilhado com a almofada o que deveria ter sido dito de alta voz, olhos nos olhos;
- desculpa ter sido covarde;
- desculpa ter amado de mais;
- desculpa ter amado de menos;
- desculpa não ter dito mais vezes que gosto de ti;
- desculpa não ter gostado de mim;
- desculpa ter abraçado de mais quem não me queria;
- desculpa ter abraçado de menos quem precisava;
- desculpa ter vivido como se estivesse tudo bem quando sangrava por dentro;
- desculpa ter fingido que não me magoavas;
- desculpa ter criado barreiras (castelos dentro do meu coração) impedindo que me atacassem, que passassem as pontes, que abrissem as portas e as janelas que mostrassem a verdade que morava dentro de mim;
- desculpa precisar tanto de ser amada;
- desculpa procurar tanto a aprovação, o reconhecimento;
- desculpa as minhas limitações;
- desculpa as tuas limitações;
- desculpa;
- desculpem.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Ao segundo filho que também quer a sua história

Filhote,
Terça-Feira 12/03/1985 17h25
Pela história que conheces do teu irmão, eu, traumatizada, não queria ter outro filho o teu pai bem insistia mas eu enervava-me e ... Não!
 
Em 1984 nasceram 3 primos, 2 do lado Amaral e 1 do lado Cordeiro, vivíamos em casa dos avós Cordeiro enquanto se construía a "casa da  Relva". O teu irmão entusiasmado com os novos primos começou a pedir um irmão e um cão para a "casa nova".
O cão, falhou por pouco, um "Grand Noir" preto (imagina só), demoramos um bocado na data da mudança e o Toni teve que dar o cão a outra família.
Bom, o certo é que o teu irmão conseguiu o que o teu pai não havia conquistado, convenceu-me a dar-lhe um irmão (nessa altura o teu pai achava melhor esperarmos para já estarmos na "nossa" casa mas eu, arrebatada, era: ou agora ou nunca! Portanto, se tens alguma reclamação por estares aqui, fala primeiro com o teu irmão.
 
Engravidei logo, naquele tempo, não se faziam análises nem testes, nem medicação pré-não sei quê.
Outros tempos.
Só fui ao médico com a minha barriguinha de 3 meses e lembro-me de quando fui buscar o resultado das análises de rotina que o médico havia solicitado, a empregada do laboratório (que me conhecia) toda contente a  confirmar a gravidez e eu, afastei-me do balcão e com a mão na barriga disse-lhe:
-Nota-se.
 
9 meses sem complicações, nem enjoos, nem desejos... apenas sono e cansaço.
Dia 12/03/1985 2 ou 3 da manhã acordei com uma "moinha" nas costas, sempre que deitava, lá vinha aquela dorzinha... remédio: ficar de pé! Ainda estávamos em casa dos avós Cordeiro, a construção da casa atrasada (falta de $$ e de mestres), o nosso quarto era o da direita quem sobe a escada e eu passei a noite a ver o vazio dos "Quatro Cantos", movimento na rua: zero!
 
Pelas 6 da manhã todo o mundo lá em casa a dormir e eu fui tomar duche, preparar.me para trabalhar, fiz papas de farinha Maizena para o teu pai e para o teu irmão (eu como sabes detesto papas).
Quando os teus avós se levantaram pelas 7h ficaram admirados (não era para menos).
O teu pai achou melhor e não ir trabalhar, deixamos o teu maninho do "Pinóquio" e eu fui para casa da avó Josefina. Dormi no sofá (as horinhas que não tinha dormido durante a noite). A tua avó acordou-me para o almoço: chicharrinhos com arroz de tomate e salada!!!!!!! No final do almoço, ainda à mesa, veio uma dor...
Pelas 14.30 fui ao consultório do médico que me mandou para o Hospital (ainda junto ao Campo de S. Francisco) com uma carta para que não me fizessem nada e para o chamar quando chegasse "a hora".
O teu pai deixou-me no Hospital, sozinha, desta vez já sabia o que me esperava, mas na hora dá um friozinho na barriga...
A maternidade já não funcionava como em 1981, estava só lá eu e duas senhoras com ameaços de aborto...
Comecei com vontade de ir à casa de banho, a parteira : "é melhor não" tinha medo do Dr. Luís Jorge que tinha fama de ser muito exigente e de passar grandes raspanetes às parteiras e enfermeiras se não cumpriam o que lhes comunicava ou ordenava.
Lá me fez e toque e disse. "não saias daqui que vou chamar o médico".
Certo é que depois de estar deitada, as dores começaram a "apertar", soprava (nem um ai) comecei com vontade de fazer força e ela avisava-me :
-"espera, espera que o médico está a chegar "
Ora bem, eu já tinha decidido que quando o meu corpo pedisse força eu ia obedecer: assim foi.
Comecei a fazer força em simultâneo com a contração, o médico, entrou, espera que eu já calço as luvas e eu cá p'ra mim: "espero, espero, quero lá saber se tens luvas ou não, está cá a parteira para o apanhar".
NASCESTE, J.!
Também tinhas cabelo, mas já não estranhei, tinhas 3,600kg menos meio quilo que o teu mano, o que faz muita diferença num recém nascido.
Tal como do nascimento do teu irmão não me lembro daquelas cenas (como se vê nos filmes), sei que te aspiraram o nariz, puseram um liquido nos olhos e ... também não tenho ninguém para nos contar, são apenas as minhas memórias, pois mais uma vez estava lá só eu. O médico e a parteira já não se vão lembrar.
Dessa vez a sutura foi bem mais simples, dois dias depois estava em casa. Havia engordado 11 kilos (42+11=53) e perdi 8 rapidamente. Passei com 23 anos a pesar 45kilos.
O teu pai foi ver-te pelas 23h mais ou menos, nós dormíamos, tinha estado na "casa da Relva" com o carpinteiro, soube que o tio J. tinha falecido e já não te queria dar o nome que havíamos escolhido, que era igual ao dele. A tua avó ligou-me no dia seguinte (há uma foto desse momento em que estou a falar com ela ao telefone e, se bem me lembro - como diria o Nemésio - tu estás deitado na cama a meu lado a mamar) e pronto J. ficaste e és.
 
Dois partos vividos sozinha, foi a minha conta, nunca mais ninguém me convenceu a ter outro filho nem tentar a menina tão desejada na família Cordeiro e que (por alguma razão) até hoje são só cordeirinhos, nem uma ovelhinha (ainda)
 
A teu pedido, meu querido, aqui está a história do teu primeiro dia.
Amo-te!
A única foto que tenho da gravidez - este é o vestido que tinha no dia em que nasceste e foi neste sofá que dormi contigo dento de mim no dia em que chegaste.
 

terça-feira, 14 de julho de 2015

Ao meu primeiro filho: menina-MÃE

31 de Outubro de 1980 esta menina de 18 anos, já grávida de 2 semanas (sem o saber ) dançava e sorria enamorada...
 
Desconhecia que 9 meses depois, 15/07/1981, se tornaria numa menina-MÃE dum rapagão com mais de 4 kilos pelas 20h25.
 
No dia em que nasceste meu menino, fiquei no Hospital (junto ao Campo de São Francisco) pelas 15 horas, sozinha.
Tinha já 19 anos mas todos achavam que teria 16 (menina de ar ingénuo), numa maternidade com 30 camas, 15 de um lado, 15 do outro, 29 mulheres a olharem para mim.
 
As mães que já tinham parido tinham a seu lado um suporte e um cesto de vimes (berço) com os seus rebentos, ora dormindo, ora chorando.
A minha cama era a número 17, a segunda à esquerda para quem entrava na maternidade, a meu lado tinha uma mãe que tinha perdido o seu bébé a meio da gestação, permanecia calada, triste, olhava a parede como que a perguntar porquê?! porque perdi o meu menino se o amava tanto? não conseguia enfrentar os olhares das outras mães que cuidavam dos seus rebentos.
 
Da porta dos fundos vinham gritos compassados, a cada nova série de gritos eu ficava apavorada, a "minha" vizinha" informou-me que aquela mulher que gritava, já lá estava há mais de duas horas, fiquei aterrorizada!
Olhei a minha barriga e pensei: como vais sair daqui de dentro meu amor? ( o médico havia-me avisado que era um bébé grande). Tinha 40 kilos quando engravidei e 56 na pesagem da última consulta. O médico que me seguiu e que previra a teu nascimento para o dia 15 ( e assim foi) encontrava-se de férias no Brasil desde o dia 13. Assim fiquei sem médico assistente.
 
Não se faziam ecografias. Não sabíamos se eras uma rapaz ou uma rapariga. Mas eu, que a primeira peça de roupa que tricotei foi um casaquinho cor-de-rosa, passei toda a gravidez a sonhar que ia ter uma rapaz. Nos meus sonhos eras já um rapagão com 3 ou seis meses, careca como os 3 sobrinhos que já haviam nascido antes de ti (duas meninas e um menino do meu lado)
 
Quando as outras mulheres repararam que eu de vez enquanto ficava "vermelha que nem um tomate" e que contorcia o rosto com um esgar de dor (nem um ai) gritaram do outro lado :
- " Eh, querida, está na hora, leva o saco com a roupinha do bébé e vai lá para dentro".
"Lá para dentro" era de onde vinham os gritos...  e eu cheia de medo lá fui, quando vou abrir a porta sem saber o que me esperava do outro lado, rodo a maçaneta da porta e oiço um grito, fechei a porta e fiquei paralisada. Atrás de mim vinha uma enfermeira que se riu às gargalhadas: " Olha esta cheia de medo!"
 
Filho, não foi fácil enfrentar estas horas só contigo por companhia e ainda dentro de mim.
Entrei pelo braço da "tal" enfermeira que se ria e ria...
Troquei de roupa como me mandou e lá fiquei numa cama que me destinaram: obediente.
Lá ia ouvindo os gritos da outra mulher...
 
Tive tanta sede meu amor, doía-me o fundo das costas, tantas vezes percorri o caminho entre a "minha" cama e a casa de banho para beber água e para borrifar o rosto ardente  sempre que vinham as dores - sem nunca me queixar.
Tive vontade de fazer força, a minha barriga contorcia-se sozinha, avisei duas enfermeiras que conversavam animadamente do lado de fora da porta ...
- "Não faças força, querida, senão quando chegar "a hora" já não vais ter força"!
 
Hoje, meu amor, sei que "aquela era a hora" e sem um ai, nem um queixume lá me aguentei, contrariando a força da natureza que se contorcia para te enviar para o meu colo.
Comecei a ficar cansada, sonolenta, com muita vontade de deixar ali, naquela cama, a barrigona que te abrigava, e ir-me embora, estar com alguém que me desse um abraço uma palavra de alento e depois... voltar para te abraçar.
 
Quase dormitava pois as dores haviam acalmado, quando, num grande alvoroço, entra, naquele quarto onde me encontrava sozinha e abandonada, uma cama guinchando, carregando uma mãe ofegante, respirando à cãozinho, era enfermeira, vinha acompanhada do marido, do médico e de 3 ou 4 colegas de profissão... eu, quase em pânico, queria sair dali, pedi para sair dali, não queria ver o parto de outra pessoa, nem queria ver o meu...  quanto mais...
Entre as risotas das enfermeiras, o médico, o Dr. Carlos Melo, sensato, mandou colocar um biombo entre a "minha" cama e a marquesa dos partos.
Foram momentos confusos para mim, tão cheia de medo como estava... e foi assim que nasceu o Tiago ( que mais tarde jogou ténis contigo em Lisboa).
Eras para ser mais velho do que ele mas como ninguém prestou atenção à menina que foi "largada" sozinha no Hospital, nem marido, nem mãe, nem irmã, nem sogra, nem amiga... (o teu pai foi para casa esperar... tinham-lhe dito que seria lá para a meia-noite, não avisou a minha família de que me tinha deixado no Hospital).
Quando o médico terminou de suturar a "Senhora Enfermeira-mãe do Tiago", retiraram o biombo, e eu, a medo, disse-lhe que tinha muitas dores no "rabo" que parecia que o meu bébé queria sair pela "porta" errada.
O médico vendo-me ali assustada, acedeu a observar-me, gritou para a parteira de serviço: "ela já está com 6 dedos de dilatação e já se vê a cabeça"!
Filho, foi tal o reboliço naquele quarto:
- o médico regressou ao seu consultório para terminar as consultas do dia;
- alguém colocou-me um balão de soro, mas a agulha não ficou bem colocada e acabou tudo derramado no chão;
- alguém agarrou numa lâmina para me depilar enquanto me mudavam da cama para a marquesa;
- loucura instalada!
Mandavam-me fazer força quando tivesse uma dor, eu fazia força mas não tinha dores, nem me lembro de as ter, A parteira teimava em me chamar de Natália e de dizer que eu tinha idade era para brincar às bonecas e não ter um filho...
 
Nasceste!
 ... colocaram-te em cima de mim, não me lembro se choraste logo ou não, estava atordoada...
surpreendi-me por teres cabelo, estavas coberto de uma "pasta" esbranquiçada e ensanguentada e tinhas uma grande "ovo" na parte de trás da cabeça, tive medo que ficasses sempre assim mas eras o meu amado e desejado bébé.
Depois explicaram-me que aquele mamelão se devia a teres ficado  "preso" naquela mudança da cama para a marquesa (soubesse eu o que sei hoje, teria feito força quando tive vontade e tu, meu amor, terias nascido mais cedo, sem aquele feio mamelão que fez com que o teu pai quando te viu perguntasse à enfermeira se tinha a certeza que aquele era o "seu" filho").
Rasguei tanto que a parteira mandou chamar o médico para me suturar (não sei quantos pontos levei) mais do que é costumo numa cesariana disse o médico à parteira, que nessa altura já sabia que o meu nome era Paula.
Já tinha pedido tantas vezes para que ligassem para a casa dos avós Cordeiro (onde se encontrava o teu pai, estávamos a viver lá pois o teu pai, tinha-se queimado um mês antes), todos me diziam que não era possível, diziam que o normal é estar alguém da família no Hospital a acompanhar a grávida e depois passar a notícia. É bom lembrar que quando nasceste não havia telemóveis.
 
O médico indignou-se e ordenou que acedessem ao meu pedido que toda as mães deviam ter o direito de fazer uma chamada para a sua família. Já passavam das 22 horas quando ligaram.
A tua tia Helena "obrigou" o teu pai a ir buscá-la a casa da avó Josefina, para nos irem ver.
Ele achava melhor esperar pelo dia seguinte mas sabes como é a tia Helena :)
 
Já passava das 23h quando chegaram, não me viram, vieram buscar-te informando-me que te iam mostrar ao teu pai. Ele não podia entrar devido ao adiantado da hora e as outras mães e os seus bébés precisavam de sossego.
Durante a noite não conseguia mover as pernas.
A minha vizinha da cama 16(a que havia perdido o bébé) pegou em ti ao colo e abraçou-te para adormeceres depois deu-te a chucha que eu tinha levado e colocou-te no cestinho de vime forrado de tecido xadrez de vermelho e branco que colocou entre as nossas camas. Fiquei-lhe a gradecida até hoje, não sei quem era, mas confesso que tive medo, muito medo. Imaginei que ela podia pegar em ti e fugir e eu ali sem me poder mexer...
Nada como se vê nos filmes, não te puseram no meu peito, não te deram biberão, nada... chuchavas,  e eu, olhava-te pelo canto do olho deitada de barriga para cima sem me conseguir mexer. 
Tinha a barriga ainda inchada e sentia umas contrações (agora sei que era o útero) mas naquela noite pensei que se calhar  tinha gémeos (tal como a minha mãe) e tinham deixado um dentro de mim, esquecido.
Naquela nossa primeira noite não dormi, não comi, não bebi.
Filho, não tenho fotos tuas, nem minhas, desse tempo...
Guardo no coração todas estas memórias e todo o amor e alegria que senti por teres feito de mim uma menina/mulher/MÃE.
Sempre te desejei, sempre te amei.
O facto de não teres sido planeado não diminuiu em nada o facto de seres desejado e amado.
Naquele tempo, as mulheres que casavam grávidas eram "faladas", olhadas de soslaio, este foi o fardo que carreguei, o peso do olhar reprovador de muita gente, os falatórios, o desgosto que dei a minha mãe, mas não por ti, meu querido filho.
Foste e és o fruto do meu amor!
Aqui está o primeiro fatinho que vestiste. Amo-te!

 

domingo, 12 de julho de 2015

(mal resol)VIDA



Leva-me!
Foram tantos os dias que esperei,
espero?
espero:
o dia, a hora
o sopro que me leve

se  voltar
que volte...
noutra pele
noutro papel
noutra cor

amanhecer 12/07/2015 - Lindo demais para despedidas :(




sem bússola, o caminho faz-se tateando
sobrevive-se,
do silêncio, faz-se música
da solidão, a companhia.


FOI BOA A FESTA , PÁ(NDA)

Dois anos!

A(VÓ)MOR