sexta-feira, 17 de julho de 2015

Ao segundo filho que também quer a sua história

Filhote,
Terça-Feira 12/03/1985 17h25
Pela história que conheces do teu irmão, eu, traumatizada, não queria ter outro filho o teu pai bem insistia mas eu enervava-me e ... Não!
 
Em 1984 nasceram 3 primos, 2 do lado Amaral e 1 do lado Cordeiro, vivíamos em casa dos avós Cordeiro enquanto se construía a "casa da  Relva". O teu irmão entusiasmado com os novos primos começou a pedir um irmão e um cão para a "casa nova".
O cão, falhou por pouco, um "Grand Noir" preto (imagina só), demoramos um bocado na data da mudança e o Toni teve que dar o cão a outra família.
Bom, o certo é que o teu irmão conseguiu o que o teu pai não havia conquistado, convenceu-me a dar-lhe um irmão (nessa altura o teu pai achava melhor esperarmos para já estarmos na "nossa" casa mas eu, arrebatada, era: ou agora ou nunca! Portanto, se tens alguma reclamação por estares aqui, fala primeiro com o teu irmão.
 
Engravidei logo, naquele tempo, não se faziam análises nem testes, nem medicação pré-não sei quê.
Outros tempos.
Só fui ao médico com a minha barriguinha de 3 meses e lembro-me de quando fui buscar o resultado das análises de rotina que o médico havia solicitado, a empregada do laboratório (que me conhecia) toda contente a  confirmar a gravidez e eu, afastei-me do balcão e com a mão na barriga disse-lhe:
-Nota-se.
 
9 meses sem complicações, nem enjoos, nem desejos... apenas sono e cansaço.
Dia 12/03/1985 2 ou 3 da manhã acordei com uma "moinha" nas costas, sempre que deitava, lá vinha aquela dorzinha... remédio: ficar de pé! Ainda estávamos em casa dos avós Cordeiro, a construção da casa atrasada (falta de $$ e de mestres), o nosso quarto era o da direita quem sobe a escada e eu passei a noite a ver o vazio dos "Quatro Cantos", movimento na rua: zero!
 
Pelas 6 da manhã todo o mundo lá em casa a dormir e eu fui tomar duche, preparar.me para trabalhar, fiz papas de farinha Maizena para o teu pai e para o teu irmão (eu como sabes detesto papas).
Quando os teus avós se levantaram pelas 7h ficaram admirados (não era para menos).
O teu pai achou melhor e não ir trabalhar, deixamos o teu maninho do "Pinóquio" e eu fui para casa da avó Josefina. Dormi no sofá (as horinhas que não tinha dormido durante a noite). A tua avó acordou-me para o almoço: chicharrinhos com arroz de tomate e salada!!!!!!! No final do almoço, ainda à mesa, veio uma dor...
Pelas 14.30 fui ao consultório do médico que me mandou para o Hospital (ainda junto ao Campo de S. Francisco) com uma carta para que não me fizessem nada e para o chamar quando chegasse "a hora".
O teu pai deixou-me no Hospital, sozinha, desta vez já sabia o que me esperava, mas na hora dá um friozinho na barriga...
A maternidade já não funcionava como em 1981, estava só lá eu e duas senhoras com ameaços de aborto...
Comecei com vontade de ir à casa de banho, a parteira : "é melhor não" tinha medo do Dr. Luís Jorge que tinha fama de ser muito exigente e de passar grandes raspanetes às parteiras e enfermeiras se não cumpriam o que lhes comunicava ou ordenava.
Lá me fez e toque e disse. "não saias daqui que vou chamar o médico".
Certo é que depois de estar deitada, as dores começaram a "apertar", soprava (nem um ai) comecei com vontade de fazer força e ela avisava-me :
-"espera, espera que o médico está a chegar "
Ora bem, eu já tinha decidido que quando o meu corpo pedisse força eu ia obedecer: assim foi.
Comecei a fazer força em simultâneo com a contração, o médico, entrou, espera que eu já calço as luvas e eu cá p'ra mim: "espero, espero, quero lá saber se tens luvas ou não, está cá a parteira para o apanhar".
NASCESTE, J.!
Também tinhas cabelo, mas já não estranhei, tinhas 3,600kg menos meio quilo que o teu mano, o que faz muita diferença num recém nascido.
Tal como do nascimento do teu irmão não me lembro daquelas cenas (como se vê nos filmes), sei que te aspiraram o nariz, puseram um liquido nos olhos e ... também não tenho ninguém para nos contar, são apenas as minhas memórias, pois mais uma vez estava lá só eu. O médico e a parteira já não se vão lembrar.
Dessa vez a sutura foi bem mais simples, dois dias depois estava em casa. Havia engordado 11 kilos (42+11=53) e perdi 8 rapidamente. Passei com 23 anos a pesar 45kilos.
O teu pai foi ver-te pelas 23h mais ou menos, nós dormíamos, tinha estado na "casa da Relva" com o carpinteiro, soube que o tio J. tinha falecido e já não te queria dar o nome que havíamos escolhido, que era igual ao dele. A tua avó ligou-me no dia seguinte (há uma foto desse momento em que estou a falar com ela ao telefone e, se bem me lembro - como diria o Nemésio - tu estás deitado na cama a meu lado a mamar) e pronto J. ficaste e és.
 
Dois partos vividos sozinha, foi a minha conta, nunca mais ninguém me convenceu a ter outro filho nem tentar a menina tão desejada na família Cordeiro e que (por alguma razão) até hoje são só cordeirinhos, nem uma ovelhinha (ainda)
 
A teu pedido, meu querido, aqui está a história do teu primeiro dia.
Amo-te!
A única foto que tenho da gravidez - este é o vestido que tinha no dia em que nasceste e foi neste sofá que dormi contigo dento de mim no dia em que chegaste.
 

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