sexta-feira, 10 de outubro de 2014

(des) arrumando gavetas, encontrando rascunhos


UM

Não atire a pedra que tem no sapato,
além de já estar magoada pode magoar alguém.
Deixe-a na berma da estrada
pode fazer falta a alguém
ou guarde-a no fundo do bolso.

DOIS

Tudo em mim em incerteza.

O sono teima em não chegar,
o teu corpo aqui, adormecido longe do meu.
Acaricio os teus cabelos sem os tocar,
para que não te afastes ainda mais.
Inspiro fundo a ver se sinto o teu cheiro, o teu calor.

A cama cresceu em largura,
separou dois corpos que se amaram.

Procuro-te no colchão frio e no vazio a meu lado.
Para onde foi o brilho dos teus olhos?
A brisa morna da tua respiração na minha pele?
Onde escondeste as tuas mãos que me arrepiavam e acarinhavam em seguida?
...
Sempre que me aproximo, afastas-te.
Esta cama não para de crescer.
A casa cresceu.... estás cada vez mais longe.
Tão longe que já não te toco, não te oiço, não te sinto, não te vejo.
...
A cama cresceu e agora vives na outra margem
deste rio de indiferença que te inundou.
Corre veloz e não sei onde vai desaguar.

Tudo em mim é incerteza.

Cada um na sua margem,
de costas voltadas,
de mão crispadas.

Para onde foram os sentimento que nos uniam apesar da distância, do mar, da terra?
A intimidade partilhada ao telefone e os corpos que se amavam?

Tem dias que recordo o teu toque macio, as palavras de amor, as mãos dadas,
os beijos ternos doces, molhados, ardentes, de mil e um sabores,
de como dançávamos abraçados, rodopiando,
sorrindo, entre beijos,
na sala , na cozinha, na floresta (apanhando pinhas)

...
A minha sala é o teu mundo.
A minha cama vazia.
A minha alma ferida.


TRÊS

Quanto menos possuo mais tenho de mim para dar
e para saborear.

EU não as coisas que tenho,
SOU o que guardo no coração,
os SORRISOS que partilho,
os ABRAÇOS que dou.

A riqueza está no brilho do meu olhar.
 
QUATRO - no Jardim Terra Nostra

Neste recanto silencioso,
escuto o bater de asas dos pássaros,
a brisa com sabor a enxofre carregando folhas num rodopio enternecedor,
o murmurar das águas férreas deixando um rasto de calor.

Abraço-me!
Disfruto da minha companhia,
abro os braços grata pela vida que tenho,
respiro profundamente toda esta paz vestida de verde pincelada de outono,
banhada desta feliz melancolia açoriana.

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