sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O BÚZIO

 
Havia quem o confundisse com um rochedo.
Vivia junto ao mar,
chamava as rochas de casa;
Velho solitário, sem abrigo,
passava os dias falando com as pedras do areal.

Andava apoiado num bordão, nas costas carregava a vida numa saca de retalhos (tão gasta e desbotada que já não se distinguia a cor dos tecidos que a compunham) : um retrato da mulher que morrera de parto, levando consigo a criança que parira,  gasta pelo tempo e pelos afagos daquela mão calejada perdera a cor  e a forma mas o "Búzio" não esquecera a beleza da sua mulher, a única mulher que amara, por vezes nas noites frias e escuras de inverno, na calada da noite, ela vinha, qual sereia, beijar-lhe a pele curtida pelo sol e pelo sal...
Tratava por tu os cães vadios (como ele) que o seguiam por toda a parte e com eles compartilhava os miolos dos nacos de pão seco, por vezes bolorento que lhe davam quando sobrava na venda do Ti Jaquim.
Não se queixava, ia vivendo os dias alimentado de esperança do reencontro com a sua amada.

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